Capítulo 16 - O Silêncio e a Espera
O silêncio da noite ainda pairava sobre a casa quando Stela acordou. A cozinha estava vazia. Philip se fora.
Ela ficou ali por um longo tempo, sentada sobre a bancada onde momentos antes ele a segurara com força, onde seus lábios haviam se encontrado com uma intensidade avassaladora. Seus dedos deslizaram sobre a madeira fria, como se ainda pudessem sentir o calor das mãos dele sobre sua pele. Mas agora tudo parecia um sonho distante, algo que nunca deveria ter acontecido.
Quando finalmente desceu da bancada, seus joelhos fraquejaram. O coração batia em um ritmo descompassado, um eco da confusão que se instalara dentro dela. Philip a beijara. Philip a desejava.
Mas ele fugiu. Como se aquilo fosse um erro imperdoável. Como se fosse errado desejá-la.
Stela passou os dias seguintes tentando ignorar a dor surda que crescia dentro dela. Mas a verdade era inescapável: ele estava se afastando.
Philip não voltou. Nenhuma carta chegou. Nenhuma palavra, nenhum sinal. O silêncio dele era um vazio sufocante.
Timont, inocente à tensão que pairava no ar, perguntou sobre ele mais vezes do que Stela conseguia suportar.
— Philip não vem mais? Ele não gosta mais da gente?
Stela forçou um sorriso e afagou os cabelos do irmão.
— Claro que gosta. Ele só... precisa de um tempo.
Mas ela mesma não acreditava nisso.
Quando foi à vila para buscar mantimentos, sentiu olhares sobre si. O burburinho que antes a incomodava agora parecia ainda mais sufocante. Todos sabiam. O anúncio no jornal ainda circulava, e as pessoas comentavam. Sussurravam quando ela passava. Homens a olhavam com curiosidade. Mulheres a encaravam com um misto de pena e divertimento.
Foi então que o Sr. Holloway, o feirante de confiança de Philip, a abordou com um sorriso cordial.
— Senhorita Whitmore — disse ele, entregando-lhe uma cesta de maçãs. — Trago notícias para você. Um dos cavalheiros que viu o anúncio enviou uma carta para Philip. Ele parece um homem respeitável e quer conhecê-la.
Stela sentiu o estômago afundar. Ela pegou o envelope estendido a ela e olhou para a caligrafia cuidadosa. Então, sem hesitação, rasgou a carta ao meio, depois em mais pedaços, deixando-os cair no chão.
O Sr. Holloway arregalou os olhos.
— Ah... bem... Então acho que devo avisar ao Sr. Lancaster que a senhorita não deseja responder.
— Faça isso — respondeu ela, a voz firme, mas os dedos tremendo levemente. Philip precisava entender que ela não era uma peça em um tabuleiro para ser negociada ao melhor pretendente.
Mas será que ele entenderia? Ou será que ele ficaria aliviado por vê-la seguir com outro homem?
A fazenda Lancaster estava envolta na névoa fria daquela manhã quando Philip voltou dos campos. Seu corpo doía da rotina árdua, mas sua mente estava longe dali. Sempre estava.
Seu pai o observava de longe, uma expressão cautelosa no rosto. Seus irmãos, Henry e William, tentavam animá-lo, mas Philip se mantinha distante.
— Você tem trabalhado como um condenado — disse Henry certa noite, enquanto jogava uma faca no tronco de uma árvore no quintal. — Isso não vai te ajudar a esquecer.
Philip não respondeu. Ele nunca respondia.
Mas não havia como esquecer.
Os lábios de Stela contra os seus. O calor do corpo dela. O gosto da juventude e da doçura misturado ao desejo que ele não deveria sentir.
Ela era jovem demais. Ele era muito mais velho, marcado pela guerra e pelas cicatrizes da vida.
Ela merecia alguém que não carregasse o peso do mundo nos ombros.
E, acima de tudo, ela merecia a chance de descobrir o amor por si mesma. O amor verdadeiro, sem a sombra da obrigação e sem as marcas de um homem que não sabia mais viver sem carregar seus próprios fantasmas.
Então, quando o Sr. Holloway chegou à fazenda naquela tarde e contou que Stela rasgara a carta do pretendente, Philip sentiu algo que não esperava: um aperto no peito.
Ela recusara. Com raiva. Com determinação.
— Ela disse alguma coisa? — perguntou Philip, tentando manter o tom neutro.
O feirante coçou a cabeça, sem perceber a tensão nos ombros do homem à sua frente.
— Disse apenas para avisá-lo de que não está interessada em um marido. Parece que ficou bastante irritada, se quer saber.
Philip virou o rosto, como se a brisa fria da tarde o incomodasse.
— Certo. Obrigado por me avisar.
O Sr. Holloway assentiu e partiu, deixando Philip parado no meio do quintal, as mãos fechadas em punhos.
Ela não queria um marido. Não queria outro homem.
Mas... e se ela também não quisesse mais a presença dele?
O pensamento o atingiu como um golpe seco. Se Stela realmente seguisse sem ele... se decidisse que ele não era nada além de um obstáculo em seu caminho... então por que ele ainda se agarrava à ideia de afastá-la?
O vento soprou forte naquela noite, mas Philip não sentiu frio. Apenas um incômodo crescente no peito.
Talvez, ele estivesse errado o tempo todo.