Capítulo 22 - O Conselho da Família Lancaster
Na manhã seguinte, a luz dourada do sol filtrava-se suavemente pelas janelas da fazenda Lancaster, iluminando os móveis robustos e os retratos de família que enfeitavam as paredes. O aroma do pão recém-saído do forno misturava-se ao cheiro amadeirado da casa, criando uma atmosfera acolhedora.
Philip desceu as escadas com um ar que não lhe era comum—leve, quase radiante. Sua mãe, a perspicaz Sra. Margaret Lancaster, ergueu os olhos do bule de chá que segurava e arqueou uma sobrancelha ao vê-lo entrar na cozinha.
— Ora, mas que bicho o mordeu, Philip? — indagou, servindo-se de uma xícara e empurrando outra na direção do filho.
Henry, já sentado à mesa, sorriu de canto, reconhecendo o brilho no olhar do irmão.
— Parece que nosso austero capitão tem um motivo para estar satisfeito. Será que, por fim, nossa mãe pode parar de se preocupar que você vá morrer sozinho?
William, o mais jovem dos irmãos, riu baixinho, enquanto espalhava manteiga sobre uma fatia de pão.
Philip, que raramente se permitia participar das brincadeiras da família, apenas suspirou e puxou uma cadeira.
— Não há mistério algum — respondeu, mas a verdade era que ele sentia o calor subir-lhe à face.
A mãe estreitou os olhos, avaliando-o com atenção.
— Não há mistério algum, mas você está sorrindo como um tolo — replicou, inclinando-se para frente. — E, se eu conheço meus filhos, esse tipo de expressão geralmente está ligado a uma mulher.
Philip pigarreou, desviando o olhar, enquanto os irmãos trocavam olhares cúmplices.
— Eu e Stela… acertamos as coisas.
O nome dela pairou no ar como uma revelação esperada e, ao mesmo tempo, surpreendente. Margaret pousou a xícara com um pequeno tilintar contra o pires, e Henry recostou-se na cadeira, satisfeito.
— Então você finalmente parou de lutar contra isso — Henry comentou. — Já estava ficando cansativo vê-lo agir como se fosse errado querer uma mulher como esposa.
Philip franziu o cenho.
— Não é tão simples assim.
— Claro que é — William interrompeu. — Você a ama. Ela parece sentir o mesmo. Por que continuar complicando?
Philip suspirou, esfregando o rosto com as mãos.
— Porque sou dez anos mais velho que ela. Porque prometi ao pai dela que a protegeria, não que a tomaria para mim. Porque sou um homem que carrega os horrores da guerra, e ela… ela é jovem, tem a vida inteira pela frente.
O silêncio instalou-se por um momento. Então, seu pai, o Sr. Edward Lancaster, que até então permanecera quieto à cabeceira da mesa, observando atentamente a conversa, finalmente falou, sua voz grave e cheia de sabedoria.
— Philip, meu filho, um homem pode fazer muitas promessas ao longo da vida, mas nenhuma delas deve ser maior do que aquela que ele faz ao próprio coração.
Philip ergueu os olhos para o pai, que o encarava com a serenidade de quem já vivera muito e aprendera as duras verdades da existência.
— Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida — continuou Edward, recitando as palavras com a calma de quem as compreendia profundamente. — Um homem não tem vida quando o coração está triste e incompleto.
Philip sentiu um aperto no peito.
— Eu fiz uma promessa ao pai dela…
— E honrou essa promessa — interrompeu seu pai. — Você a protegeu, garantiu seu sustento, cuidou para que nada lhe faltasse. Mas a promessa que fez era de proteção, não de sacrifício. Se essa moça é aquela que traz sentido aos seus dias, que acalma seu espírito e faz com que a vida pareça menos dura, então por que negar o que Deus já colocou diante de você?
Philip abaixou a cabeça, absorvendo as palavras.
— Todo homem deve encontrar uma aliada que seja semelhante a ele — prosseguiu Edward. — E, pelo que você diz, Stela parece ser uma mulher exemplar. E uma mulher exemplar vale mais do que as pérolas.
A mãe de Philip sorriu, satisfeita.
— Então está decidido — disse Margaret, batendo levemente na mesa. — Agora que sabemos que essa jovem será sua esposa, é hora de conhecê-la devidamente.
Philip levantou os olhos para a mãe, confuso.
— Mas vocês já sabem quem ela é.
— Sabemos de seu nome, de suas dificuldades e de sua ligação com você — respondeu Margaret. — Mas, da última vez que essa moça esteve nesta casa, vocês estavam em meio a uma briga acalorada, e não tive a chance de vê-la como a mulher que realmente é.
— Então, o que sugere?
Margaret sorriu com satisfação.
— Um jantar, é claro. Uma apresentação decente. Se ela for se tornar parte desta família, quero conhecê-la da forma correta.
Philip hesitou, mas então percebeu que não havia como fugir daquilo.
— Então, um jantar será.
Seus irmãos sorriram, satisfeitos.
Margaret ergueu-se, batendo as mãos uma na outra com determinação.
— Ótimo! Então providenciarei tudo. Mas, Philip… — ela pousou a mão sobre a do filho e apertou-a levemente — não a deixe esperando muito.
Philip assentiu. E, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que estava, finalmente, no caminho certo.