Capítulo 14 - O Anúncio

Os dias escoaram como água entre os dedos, e Stela, por mais que tentasse dissipar a mágoa que se alojara em seu peito, não conseguia afastar a sensação amarga de abandono. Philip havia partido de sua vida com a mesma frieza com que encerrava uma conversa. Era como se o homem que ela acreditara conhecer, aquele que lhe escrevera com tanta sinceridade, tivesse se desfeito em meras formalidades.

Ela sentia falta dele. De suas poucas palavras, de sua presença sólida e discreta, do modo como ele, sem esforço, fazia a casa parecer menos vazia. E sentia falta de seus olhos âmbar.

Philip possuía uma beleza que não se alardeava, mas se impunha. Os cabelos castanhos, ondulados e sempre ligeiramente desalinhados, a barba curta que realçava a força de seu semblante e aqueles olhos, claros como mel sob a luz do sol, ternos e humildes, mas insondáveis. Quando fardado, exalava autoridade, e Stela recordava-se vividamente do dia de sua partida. Algo em sua postura reta e inabalável a fizera sentir um arrepio inesperado percorrer-lhe a espinha.

Desde então, seu coração encontrava-se num impasse. O que sentia não era tão simples de nomear. Era gratidão? Era saudade? Ou algo mais? Nunca houvera tempo para se debruçar sobre tais sentimentos. Philip tornara-se uma constante em sua vida, e agora, de súbito, era apenas uma ausência.

E uma ausência que doía.

Quando foi à venda naquela manhã, Stela percebeu algo diferente no ar. O burburinho que se formava à sua volta a fez franzir a testa. Olhares furtivos, sorrisos abafados entre cochichos, e, para sua perplexidade, até mesmo homens que lhe dirigiam piscadelas descaradas.

Ela apertou a cesta nos braços, sentindo o desconforto crescer.

As mulheres riam entre si, algumas lançando-lhe olhares curiosos, outras apenas divertiam-se com algo que ela desconhecia. E então, uma senhora de ar condescendente aproximou-se.

— Minha querida, meu filho é um excelente partido. Forte, trabalhador, e muito bem estabelecido — iniciou, sem qualquer preâmbulo. — Gostaria de conhecê-lo? Afinal, está à procura de um marido, não está?

Stela piscou, surpresa.

— Perdão? — Sua voz saiu hesitante, como se não tivesse certeza de ter ouvido corretamente.

A mulher inclinou a cabeça, avaliando-a com um olhar astuto.

— Está nos jornais, minha querida. O anúncio foi bem escrito, devo dizer. Mas diga-me... está mesmo tão ansiosa para se casar ou há algo que precise ser resolvido rapidamente? — Sua voz abaixou. — Talvez uma criança a caminho?

O calor da indignação subiu-lhe às faces.

— Isso é um completo disparate! — exclamou, endireitando os ombros. — Quem espalhou tamanha falsidade?

A mulher ergueu as sobrancelhas, como se a resposta fosse óbvia.

— Ora, está na coluna de relacionamentos.

O coração de Stela disparou. Sentiu os dedos tremerem ao alcançar as poucas moedas que levava consigo, entregando-as ao jornaleiro e agarrando um exemplar do periódico. As páginas pareciam infinitas enquanto as folheava com urgência, até que, finalmente, seus olhos encontraram as palavras fatídicas.

"Procura-se um marido para uma jovem prendada, honesta e virtuosa. Moça de grande caráter, trabalhadora, com dons domésticos e um coração generoso. Tem fé em Deus e espírito acolhedor. Busca um homem de princípios, protetor e responsável, para formar família."

Seu nome estava ali, impresso para quem quisesse ler. Como se fosse uma mercadoria a ser adquirida pelo melhor pretendente.

A fúria subiu-lhe ao peito como uma onda voraz.

Philip.

Só podia ter sido ele. Ele, que sempre tomava decisões por ela. Ele, que decidira que ela precisava de um marido sem ao menos lhe consultar.

Seu sangue fervia. Com que direito ele fizera aquilo? Como ousava expô-la dessa maneira, como se sua vida fosse um assunto que ele pudesse dispor livremente? Philip não era seu pai. Ele não era nada.

Respirando fundo, fechou o jornal com um estalo e pressionou-o contra o peito. Queria confrontá-lo, exigir explicações, olhá-lo nos olhos âmbar e perguntar-lhe, sem rodeios, por que ele a descartara de sua vida como se fosse um fardo indesejado.

Mas Philip não estava ali.

Ela não sabia onde ficava exatamente a fazenda Lancaster. Não sabia sequer para onde escrever uma carta.

Estava claro para ela. A guerra havia terminado, e com ela, qualquer laço que Philip ainda sentisse obrigação de manter. Talvez, ao arrumar-lhe um marido, ele acreditasse estar encerrando definitivamente seu dever, livrando-se do peso da promessa feita ao pai dela. Como se pudesse simplesmente delegar a outro homem aquilo que fora, por tanto tempo, sua responsabilidade. 

A frustração cresceu dentro dela, um nó sufocante em sua garganta. Ela precisava encontrá-lo. Precisava entender por que ele estava fazendo isso.

A única esperança era aguardar a próxima entrega de mantimentos e perguntar ao o Sr. Holloway como poderia encontrá-lo. Até lá... tudo o que restava era a fúria queimando dentro dela, alimentada pelo abandono e pela incompreensão.

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