Capítulo 24 - O Jantar na Fazenda Lancaster
A casa da família Lancaster, imponente e acolhedora, parecia ainda mais calorosa naquela noite. A iluminação suave dos lustres de velas realçava os móveis rústicos e os detalhes antigos da residência, criando uma atmosfera que misturava tradição e afeto.
Quando Philip estacionou a caminhonete diante da entrada principal, Stela sentiu um aperto no peito. Não era nervosismo, mas algo indefinível, como se estivesse prestes a cruzar uma linha invisível para um novo capítulo de sua vida.
Philip desceu primeiro, contornando o carro para abrir a porta para ela. Stela aceitou a mão estendida, notando o calor da pele dele contra a sua, e Timont saltou animado do banco de trás.
Antes que pudessem chegar à soleira, a porta da casa foi escancarada, revelando Margaret Lancaster, com um sorriso amplo e acolhedor.
— Finalmente! Pensei que tivessem se perdido no caminho — disse ela, abrindo os braços. — Stela, minha querida, entre, entre!
Stela sentiu-se envolvida pela recepção calorosa, e ao atravessar a porta, foi apresentada aos irmãos de Philip—Henry e William—que a receberam com expressões divertidas e olhares cúmplices.
— Ora, ora — começou Henry, cruzando os braços. — Então esta é a mulher responsável pelo bom humor repentino de nosso irmão mais rabugento.
Philip lançou-lhe um olhar de advertência, mas Stela, que já havia aprendido a lidar com a natureza reservada de Philip, apenas sorriu.
— Se Philip está de bom humor, receio não poder levar o crédito. Deve ser apenas um erro de interpretação.
William riu, aprovando a resposta.
— Ela é esperta — comentou, voltando-se para Philip. — Tem certeza de que consegue acompanhá-la?
Philip apenas bufou, mas a mãe deles parecia radiante ao conduzir Stela para a grande sala de jantar.
Quando se sentaram à mesa, Margaret certificou-se de que Stela ficasse ao lado de Philip, e Timont, entusiasmado, sentou-se ao lado de Edward Lancaster, que já o tomava sob sua asa como se fosse parte da família.
— Então, jovem Timont, o que me diz de me ajudar com uma importante missão? — Edward Lancaster, o pai de Philip, logo procurou enturmar o jovem garoto que parecia um pouco acanhado.
Timont arregalou os olhos.
— Que tipo de missão?
Edward sorriu.
— Escolher o melhor pedaço de carne para ser servido primeiro. Preciso de um perito em bons cortes.
O menino riu, sentindo-se importante, começou a analisar o galeto assado exposto na mesa, deixando Stela observando a cena com um calor no peito.
A mesa farta estava cercada por conversas animadas. Stela, para sua surpresa, sentiu-se à vontade entre os Lancaster. Havia uma harmonia entre eles, algo que ela nunca experimentara.
As provocações dos irmãos de Philip eram constantes.
— Então, Stela — começou Henry, inclinando-se levemente sobre a mesa —, conte-nos como foi conviver sob o mesmo teto que nosso austero irmão. Ele mantém aquela carranca até mesmo de manhã cedo?
Stela sorriu, levantando a taça de vinho antes de responder:
— Surpreendentemente, Philip é bem… previsível. Ele acorda cedo, raramente sorri sem motivo e parece ter uma devoção quase religiosa à rigidez e ao dever.
Os irmãos riram, e Henry bateu na mesa, satisfeito.
— Como suspeitei! O mesmo soldado inabalável dentro e fora do campo de batalha.
— Mas — continuou Stela, pousando a taça sobre a mesa e olhando para Philip com um brilho nos olhos — às vezes, ele me surpreende.
Philip a olhou de lado, intrigado, enquanto Henry e William trocavam olhares interessados.
— Surpreendo?
— Sim — confirmou, observando-o com um brilho nos olhos. — Quando menos espero, ele faz algo inesperado. Como aparecer em minha cozinha no meio da noite sem aviso ou… trazer-me um vestido que nunca pedi.
Philip abaixou a cabeça, tocando a borda do copo com os dedos, enquanto os irmãos trocavam olhares cúmplices.
— Veja bem, Henry — disse William —, acho que acabamos de descobrir algo novo sobre Philip Lancaster. Ele pode ser, de fato, um homem romântico.
— Duvido — provocou Henry. — Um homem romântico daria flores.
— Ele deu.
O silêncio se instalou na mesa. Philip soltou um suspiro resignado, enquanto Henry e William trocaram um olhar estarrecido.
— Philip Lancaster comprando flores? — Henry balançou a cabeça. — Isso merece um brinde.
Ele ergueu a taça, e todos acompanharam, rindo, enquanto Philip apenas fechava os olhos por um instante, derrotado.
— Vocês são insuportáveis — murmurou, mas havia um resquício de sorriso nos lábios dele.
— Ora, irmão — disse William, divertido —, parece que há um lado seu que não conhecemos.
Stela observou que Philip estava diferente ali, mais relaxado, menos contido. Ele pertencia àquele lugar, àquela família cheia de provocações e risadas espontâneas. E, de alguma forma, ela também começava a se sentir parte disso.
Ela gostava da família Lancaster. Gostava da maneira como Philip parecia parte de algo ali, mais relaxado, menos atormentado.
O silêncio que se seguiu não foi desconfortável. Pelo contrário, parecia carregado de significado. Philip, por sua vez, manteve-se calado, mas um músculo em sua mandíbula se contraiu levemente.
Margaret, sempre atenta, decidiu mudar o rumo da conversa.
— E diga-me, Stela, você cozinha?
A pergunta pegou Stela de surpresa, mas ela assentiu.
— Desde muito jovem. Tive que aprender cedo.
— E é boa nisso? — insistiu a matriarca, os olhos brilhando de curiosidade.
— Bem… Timont ainda está vivo e saudável, então suponho que sim.
A resposta fez Edward soltar uma gargalhada.
— Acho que já gosto dessa moça.
Timont, que até então se mantinha entretido observando os adultos, de repente virou-se para Edward com um olhar pensativo.
— Senhor Lancaster, o senhor é pai do Philip, certo?
Edward arqueou uma sobrancelha.
— Sim, sou.
— Então isso faz do senhor um avô de verdade?
O comentário inocente arrancou risadas dos irmãos de Philip, e até Margaret levou a mão aos lábios para esconder a diversão.
Edward, no entanto, sorriu largo.
— Depende, jovem Timont. Você gostaria de ter um avô de verdade?
Timont pensou por um instante antes de assentir com entusiasmo.
— Sim! Mas só se o senhor me ensinar a pescar.
Edward deu um tapinha nas costas do menino.
— Considero isso um acordo selado.
Stela observou a cena, sentindo um nó na garganta. Timont nunca tivera uma figura paterna verdadeira. Mas ali, na fazenda Lancaster, ele já estava encontrando o que tanto lhe faltara.
Quando a refeição terminou, Margaret começou a recolher os pratos, mas Stela se apressou em ajudá-la.
— Não precisa, querida — disse a matriarca.
— Eu insisto. Não gosto de ficar sem fazer nada quando há trabalho a ser feito.
Margaret a observou por um momento antes de sorrir com aprovação.
— Você é uma mulher rara, Stela Whitmore.
Stela sorriu de volta, mas não disse nada. Ela nunca se sentira tão bem recebida em um lugar como se sentia ali.
— Philip nos falou sobre você — disse ela, pousando uma mão gentil sobre a de Stela. — E, devo dizer, sua história nos impressionou.
Stela piscou, surpresa.
— Ele falou?
Margaret assentiu.
— Sobre sua força, sua dedicação ao irmão, sua resiliência diante da guerra.
Stela desviou o olhar por um breve momento.
— Eu apenas fiz o que precisava ser feito.
— O que muitas não teriam conseguido — pontuou Margaret.
Stela ficou em silêncio por um instante, sentindo o peso daquelas palavras. Philip havia falado dela para a família. Não como uma obrigação ou um dever, mas como alguém que ele admirava.
Do outro lado da mesa, ele a observava com atenção.
Ele não precisava de mais confirmações. Stela pertencia àquele lugar.
E, mais do que nunca, ele queria que ela pertencesse a ele.
***
Após o jantar, a conversa fluía animada pela sala, onde a família Lancaster e Stela continuavam a se conhecer melhor. Timont, completamente à vontade, escutava fascinado as histórias de Edward Lancaster sobre a juventude de Philip e seus irmãos. Stela sorria ao ver o irmão tão entrosado, absorvendo cada palavra do patriarca como se fossem contos heroicos.
Philip, no entanto, não conseguiu permanecer muito tempo naquela atmosfera familiar. Margaret puxou o filho discretamente para fora da sala.
— Venha comigo — disse ela, conduzindo-o até seu quarto.
Ele a seguiu em silêncio, e ao entrarem, Margaret dirigiu-se até um pequeno cofre dentro do armário. Quando voltou-se para ele, abriu a palma da mão, revelando um anel.
Philip reconheceu de imediato.
— Mãe…
— Esse foi o anel que seu pai me deu quando me pediu em casamento — disse Margaret suavemente. — E agora, quero que você o tenha.
Ele respirou fundo, sentindo um aperto no peito.
— Você tem certeza?
Ela segurou sua mão, depositando o anel ali com delicadeza.
— Meu filho, eu vejo a maneira como você olha para essa moça. E mais do que isso, vejo a maneira como ela olha para você. Se você está pronto, eu os abençoo.
Philip sentiu um aperto na garganta. A joia pesava em sua palma de um jeito que não tinha nada a ver com ouro e pedra—era o peso de um compromisso, de uma decisão que ele já havia tomado em seu coração, mesmo que não tivesse admitido até agora.
— Eu… — Ele respirou fundo, procurando as palavras certas. — Eu a amo.
Margaret sorriu, os olhos brilhando. Mas Philip passou os dedos pelo anel, pensativo.
— Passei tanto tempo tentando convencê-la de que ela deveria se casar com outro, que me questiono se realmente sou o melhor para ela… — Ele começou, mas ela o interrompeu.
— Oh querido, você buscava uma cópia de si mesmo para se casar com ela. Stela é uma mulher virtuosa e você um homem segundo o coração de Deus. Vocês são perfeitos um para o outro!
— E se eu não for suficiente para ela?
— Ah, meu filho… — Margaret suspirou, acariciando sua bochecha. — Você já é. Lembre-se do que seu pai disse. Um homem pode fazer muitas promessas na vida, mas nenhuma deve ser maior do que aquela que faz ao próprio coração.
Philip fechou os olhos por um instante e apertou o anel entre os dedos. Quando abriu os olhos novamente, sua hesitação havia desaparecido.
— Obrigado, mãe.
Margaret sorriu,satisfeita, acariciando-lhe o rosto como fazia quando ele era menino.
— Agora vá.
Ele inclinou a cabeça em agradecimento e saiu do quarto, com o anel seguro dentro do bolso.
Naquela noite, ele tomaria o destino em suas mãos.
***
Philip desceu as escadas sentindo anel dançar no bolso de sua calça, um lembrete silencioso de que ele estava prestes a mudar o curso de sua vida. Ao atravessar a sala, seus olhos procuraram Stela instintivamente.
Ela conversava com William e Henry, os olhos brilhando com interesse em meio à conversa animada. Sua risada suave soou no ambiente, e algo dentro de Philip se apertou. Ele queria ouvir aquele som pelo resto da vida.
A decisão já estava tomada.
Ele se aproximou e, quando Stela notou sua presença, ergueu o olhar, sorrindo-lhe de leve.
— Gostaria de conhecer a fazenda? — ele perguntou, a voz mais grave do que pretendia.
Stela piscou, surpresa.
— Agora?
— Sim. Quero lhe mostrar algo.
Ela hesitou por um momento, mas então assentiu.
Timont, entretido em uma conversa animada com Edward Lancaster, acenou displicente quando Stela disse que sairia por alguns instantes. O patriarca apenas sorriu para Philip, como se já soubesse o que viria a seguir.
Philip pegou um lampião, e juntos seguiram para os fundos da propriedade. A noite estava límpida, e a lua refletia-se na superfície calma da pequena lagoa que ficava próxima à casa, um espelho prateado no meio da paisagem rural.
Stela parou na ponta do píer de madeira, inspirando profundamente o ar fresco.
— É lindo aqui — murmurou, encantada.
Philip permaneceu um passo atrás, observando-a. O reflexo da lua iluminava seu perfil delicado, e ele soube, com uma certeza esmagadora, que não havia um único momento nos últimos anos em que ele não tivesse amado aquela mulher.
Ele se aproximou lentamente, parando ao lado dela.
— Stela…
Ela virou-se para encará-lo, os olhos verdes capturando a luz com uma suavidade que o desarmava.
Philip umedeceu os lábios, sentindo a respiração pesar. Ele havia pensando em mil maneiras de dizer o que precisava ser dito, mas agora que a tinha diante de si, apenas a verdade poderia bastar.
— Eu passei anos tentando lutar contra isso — começou, a voz rouca pelo peso do que carregava. — Convenci a mim mesmo de que você merecia alguém melhor, alguém mais jovem, alguém que não tivesse visto as coisas que vi ou carregasse os fardos que carrego.
Os olhos de Stela suavizaram, mas ela permaneceu em silêncio, permitindo que ele continuasse.
— Mas, mesmo assim, mesmo contra todo o meu bom senso, eu a amei. Desde o primeiro dia.
O coração de Stela martelava contra o peito.
Philip soltou uma leve risada, sem humor.
— Eu a amei quando a vi brincando com Timont no quintal, quando me deparei com seus desenhos pela primeira vez, quando você desafiou cada decisão que tentei tomar por você.
Ela sentiu um calor espalhar-se por seu corpo, sua garganta apertando-se com a emoção.
Philip respirou fundo e tirou do bolso o anel que sua mãe lhe entregara. Ajoelhando-se abriu a mão, revelando o anel delicado com o rubi no centro. Stela prendeu o fôlego esperando as palavras seguintes.
— Case-se comigo, Stela.
Por um instante, tudo pareceu suspenso. O vento soprou suave, a água da lagoa balançou levemente, e a única coisa que existia era ele e ela.
Os olhos de Stela brilharam, e então um sorriso delicado curvou-se em seus lábios.O corpo um pouco trêmulo sentindo a emoção do momento.
— Oh, Philip! Mas é claro que sim! — Disse o encarando com olhar que não desmontrara nem sequer uma sombra de dúvida.
Philip fechou os olhos por um breve instante, como se estivesse absorvendo aquelas palavras. As palavras que mudariam tudo.
Então, sem hesitação, deslizou o anel em seu dedo. Perfeito. Como se sempre tivesse sido dela.
Quando seus olhos se encontraram novamente, ele não resistiu, pôs-se de pé a frente dela e como se aquele momento fosse o último segundo de sua vida, envolveu-lhe os braços à cintura tomando sua boca. Ela retribuiu sem reservas, os dedos cravando-se em seus cabelos, puxando-os com uma mistura de ternura e desespero, querendo sentir cada fio, cada respiração entrelaçada à dele. Philip, sem pudor, deslizou os lábios úmidos pela curva do pescoço dela, aspirando o perfume que exalava — o cheiro dela inebriante e doce como o mel. Stela inclinou a cabeça para trás, expondo-se, rendida, enquanto a língua dele traçava caminhos quentes em sua pele, deixando rastros de fogo.
Quando ele alcançou o vale entre os seios, pressionando beijos ardentes contra o tecido que os cobria, Stela soltou um gemido baixo, quase um soluço, que ecoou nas veias de Philip como um trovão. Seu corpo reagiu com violência, latejando contra as calças, mas ele não recuou — apenas apertou-a mais contra si.
— Oh, céus… — sussurrou, a voz embargada, o rosto afundado no colo dela, agora ruborizado pelo calor de seus toques. — Como eu te desejo, Stela…
Ela arquejava, cada respiração, um espelho do próprio Philip. Sentia-se liquefazer, um calor escaldante entre as coxas, algo que nunca experimentara — nem em sonhos mais ousados.
— Philip… — murmurou, quase em prantos, quando ele voltou a subir, capturando seus lábios num beijo que misturava desespero e reverência. As mãos dele desceram, moldando-se às curvas das nádegas, puxando-a contra sua ereção, fazendo-a sentir toda a força de seu anseio.
— Deus do céu… — ele gemeu, afastando-se apenas o suficiente para respirar, mas sem soltá-la. Seus dedos tocavam-lhe a pele, trêmulos, lutando contra o instinto de arrancar cada camada que os separava. — Em breve… — continuou, a voz grave, rouca, — estaremos casados, e eu vou me perder em você. Cada centímetro. Cada segredo.
Stela assentiu, sorrindo ainda ofegante, as bochechas coradas. Afastou-se apenas para roçar a testa na dele, seus corpos ainda colados, o ar entre eles denso como uma promessa.
— Você foi a melhor coisa que já me aconteceu na vida, Stela Whitmore. — Ele sussurrou, os lábios roçando os dela a cada palavra, compartilhando o mesmo oxigênio, o mesmo delírio.
— E você… foi o único que ansiei em toda minha vida — ela respondeu, a voz fraca, mas carregada de uma certeza que atravessa séculos.
Naquela noite, sob o céu estrelado, Philip Lancaster soube que, finalmente, havia encontrado seu lar.