Capítulo 21 - A Noite da Confissão

Philip permaneceu dentro do carro, as mãos ainda firmes no volante, enquanto observava Stela entrar em casa. Seus olhos acompanharam o instante em que ela foi recebida por Timont, que correu para os seus braços com uma alegria desmedida. Ela o ergueu no ar, rodopiando-o em saudação, uma risada ecoando suavemente pela casa silenciosa.

Philip sentiu o peito apertar.

Era essa a vida que ele queria para Stela. Uma casa, conforto, risos sem preocupações. Mas por que, então, a ideia de outro homem proporcionando tudo isso a ela era insuportável? Ele cerrou os olhos, respirando fundo.

Dez minutos se passaram, e ele continuava ali, imóvel, o coração pesado. Henry estava certo. Ele amava Stela. Amava-a desde o primeiro momento em que a vira, desde o instante em que ouvira o pai dela falar sobre a filha que deixava para trás. Mas demorou anos para entender que aquele sentimento crescia dentro dele a cada dia, a cada bilhete trocado, a cada olhar furtivo. Nenhuma mulher, nem mesmo Eleanor, sua antiga noiva, conseguira despertar nele um desejo tão absoluto quanto Stela o fazia.

Mas como poderia sequer admitir isso para si mesmo? Ele era mais velho, era seu guardião, tinha prometido ao pai dela que cuidaria dela e de Timont. Como poderia agora desejar tomá-la para si? O que Charles Whitmore pensaria dele se pudesse vê-lo agora? Se soubesse que o homem em quem confiara para proteger sua filha era o mesmo que passava noites em claro ansiando pelo toque dela?

Philip passou uma mão pelo rosto. Ele precisava afastar esse pensamento.

Mas e se Stela se casasse? E se aceitasse um dos pretendentes que haviam surgido desde o maldito anúncio no jornal? Ele conseguia imaginá-la com outro homem? Conseguia suportar a ideia de vê-la construir uma família ao lado de alguém que não fosse ele?

A resposta veio como um soco no estômago.

Não.

Ele nunca suportaria.

Philip inspirou fundo e, antes que pudesse se conter, abriu a porta do carro e saiu, determinado. Antes de qualquer coisa, precisava saber. Precisava ter certeza do que ela sentia por ele. Se o olhava da mesma forma que ele a olhava quando acreditava que ninguém estava vendo. Se era mais do que a gratidão de uma menina pelo homem que cuidara dela por tantos anos. Ele tinha vivido sua juventude e sabia como os sentimentos podiam ser voláteis. O que ela sentia por ele era amor, ou apenas um reflexo da proximidade que tiveram?

Seu coração batia descompassado quando bateu à porta.

Stela abriu com um semblante surpreso. Ela já estava em trajes de dormir—um vestido simples e confortável, os cabelos soltos caindo em ondas sobre os ombros. A casa estava em meia luz, e Timont já havia ido para a cama. O ambiente era íntimo, acolhedor, e Philip sentiu uma onda de calor atravessá-lo.

— Philip? O que foi? — Sua voz trazia uma leve preocupação.

Ele respirou fundo, seus olhos se fixando nos dela.

— Eu preciso falar com você.

Ela hesitou, mas se afastou para que ele entrasse. Ele deu alguns passos para dentro, sentindo o cheiro familiar do chá que ainda fumegava sobre a mesa. Ficou de costas para ela por um momento, tentando encontrar as palavras, até que, finalmente, virou-se.

— Eu tentei, Stela. Eu tentei fazer o que era certo. Mas não posso mais fingir.

Ela franziu o cenho.

— Fingir o quê?

Philip apertou os punhos, reunindo coragem.

— Que não a desejo. Que não a quero como um homem deseja uma mulher. — Sua voz era grave, carregada de uma confissão que ele jamais pensou que faria.

Stela sentiu o ar fugir de seus pulmões. Por um momento, tudo pareceu se dissolver ao redor dela.

— Philip... — começou, mas ele a interrompeu.

— Eu sou seu guardião, Stela. Fiz uma promessa ao seu pai. E eu... eu não posso desonrá-la.

Ela se aproximou, os olhos faiscando com uma emoção que ele não soube decifrar.

— Você sempre fala sobre honra, sobre promessas, sobre dever. Mas quando vai falar sobre o que realmente sente? — Sua voz era um misto de frustração e súplica. — Quando vai parar de decidir o que eu devo sentir? O que eu devo querer para minha própria vida?

Philip desviou o olhar, mas Stela não permitiria que ele fugisse daquela vez.

— Se eu não significasse nada para você, se tudo isso fosse apenas um capricho, você não estaria aqui agora. Não teria me arrancado daquela dança esta noite. Não teria passado todos esses anos me protegendo como se minha vida fosse mais valiosa que a sua.

Philip fechou os olhos por um instante.

— Stela...

— Diga a verdade. Você me quer? — Ela deu mais um passo à frente, reduzindo a distância entre eles. — Como mulher, não como responsabilidade.

Ele a fitou intensamente, os olhos escurecendo com algo perigoso, algo que ele lutara para conter por tanto tempo.

— Sim — ele murmurou, rouco. — Mas isso não significa que eu deva tê-la.

— E quem decide isso? Você? — Sua voz falhou levemente, mas não de medo. De desafio.

Ele não teve tempo de responder. No instante seguinte, Stela se ergueu na ponta dos pés e tomou sua boca com a dela.

O beijo foi diferente daquele primeiro, marcado pela hesitação e pelo ímpeto contido. Dessa vez, não havia barreiras. Philip a puxou para mais perto, os braços firmes em torno de sua cintura, como se soubesse que, uma vez que cedesse, nunca mais poderia soltá-la. Suas bocas se encontraram com desespero, explorando, redescobrindo.

Stela sentiu as mãos dele deslizarem por suas costas, puxando-a contra si, enquanto uma de suas mãos se embrenhava nos cabelos dele, segurando-o como se pudesse mantê-lo ali para sempre.

Philip se afastou por um breve momento, seus olhos fixando-se nos dela, a respiração entrecortada. Ele estava perdido.

— Você tem certeza disso? — Sua voz saiu num murmúrio grave.

Ela sorriu, os dedos traçando suavemente sua mandíbula.

— Desde o momento em que te vi entrar em minha casa há 4 anos atrás.

Ele gemeu baixo, como se aquela confissão fosse sua ruína, e então a beijou novamente, mais profundo, mais faminto.

E dessa vez, ele não fugiu.

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