Capítulo 23 - O Convite

Philip Lancaster nunca fora um homem de hesitações. Soldado, guardião, filho devoto—sempre soubera qual era o seu dever e o cumprira com disciplina. Mas, ao cruzar a vila naquela manhã em direção à casa onde Stela e Timont viviam, sentiu-se pela primeira vez vulnerável a algo que não compreendia por completo.

O bouquet de flores em sua mão parecia pequeno diante da grandiosidade do momento. Não era apenas um gesto; era uma confissão silenciosa de tudo que estava guardado dentro dele.

Ao bater na porta, ouviu passos apressados do outro lado. Quando Stela abriu, vestindo um simples avental sobre o vestido gasto, com os cabelos levemente desalinhados pelo vento matinal, Philip prendeu a respiração. Mesmo sem adornos, ela era bela.

Ela o olhou com curiosidade e depois para as flores, franzindo a testa. Na mão esquerda, ele ainda segurava uma caixa com um laço.

— Veio pedir desculpas por alguma coisa? — indagou, cruzando os braços.

Philip ergueu uma sobrancelha, segurando o riso.

— Não que eu saiba. Mas, se você precisar de um motivo para aceitá-las, podemos fingir que sim.

Stela mordeu o lábio, segurando um sorriso, antes de pegar as flores e sentir o perfume suave delas.

— São bonitas. Não sabia que tinha esse lado romântico, Sr. Lancaster.

— E eu não sabia que você tinha o hábito de torturar visitantes com perguntas ao invés de convidá-los para entrar.

Antes que ela pudesse retrucar, Timont surgiu correndo pela casa e, ao ver Philip, lançou-se sobre ele com animação.

— Você voltou! — o menino exclamou, agarrando a cintura do soldado com os braços finos.

Philip bagunçou os cabelos do garoto, retribuindo o gesto com um aperto firme nos ombros.

— Voltei. E trouxe novidades.

Stela observava a interação dos dois com um calor no peito que não sabia nomear. Philip sempre fora mais do que um tutor; ele era um pilar, a presença silenciosa que sempre os protegera.

— Então, qual é a novidade? — perguntou, servindo café para ele.

Philip pegou a xícara e sorveu um gole antes de pousá-la na mesa.

— Quero que você e Timont venham comigo esta noite à fazenda Lancaster para um jantar com minha família.

O silêncio se instalou por um momento. Stela piscou, surpresa.

— Um jantar?

— Minha mãe deseja conhecê-la adequadamente — explicou Philip, observando-a atentamente. — E eu também quero que você vá.

Ela olhou para Timont, que sorria de orelha a orelha, claramente animado com a ideia. Depois, voltou-se para Philip.

— Eu… não sei, Philip. Não tenho roupas para esse tipo de ocasião.

Ele sorriu de leve enquanto esticava a mão para pegar a caixa, embrulhada cuidadosamente com um laço, depositada na mesa.

— Pensei nisso.

Ela pegou o embrulho hesitante e, ao abri-lo, encontrou um vestido de tecido macio, de um verde profundo, delicado e belo. Seu coração apertou.

— Philip… isso é…

— Você não tem tido o luxo de pensar em si mesma há muito tempo — disse ele, a voz baixa, mas firme. — Quero que se sinta bela. Porque você é.

Stela engoliu em seco, sentindo as faces corarem.

— Eu… não sei o que dizer.

— Diga que aceitará ir.

Ela hesitou por um momento, mas então assentiu, apertando o tecido do vestido entre os dedos.

— Eu irei.

Philip soltou um leve suspiro, como se aquele pequeno consentimento significasse mais do que poderia admitir. Depois, inclinou-se levemente e pousou um beijo terno na testa dela, demorando-se por um instante a mais do que o necessário.

— Buscarei vocês às oito. — Falou levantando e caminhando em direção a porta.Stela o acompanhou e assistiu sua saída. 

Então ele se foi.

Stela ficou parada na soleira da porta, sentindo a pele formigar onde os lábios dele tocaram, enquanto Timont olhava para ela com um sorriso maroto.

— Acho que Philip gosta de você.

Ela revirou os olhos, fingindo desdém.

— Deixe de bobagens e vá se arrumar para o jantar.

Mas, no fundo, sabia que Timont não estava errado.

***

Assim que Philip partiu, Stela correu para o quarto, segurando o vestido contra o peito. Ela não se sentia assim há anos—uma mulher, e não apenas uma sobrevivente da guerra.

O banho foi tomado às pressas, mas ela demorou ao se vestir. O tecido do vestido era suave contra a pele, caindo perfeitamente sobre suas curvas. O espelho lhe devolveu um reflexo que ela mal reconhecia. Era ela, mas diferente.

Os cabelos foram presos com delicadeza, algumas mechas soltas caindo suavemente ao redor do rosto. Um pequeno toque de pó nas bochechas realçou o rubor natural. Talvez, só por aquela noite, ela pudesse permitir-se sentir-se bela.

Quando deu por si, o relógio marcava oito horas e o som do motor do carro de Philip ressoava do lado de fora.

Ela abriu a porta, encontrando-o já parado na soleira, vestindo uma camisa de linho impecável e calça escura. Os cabelos estavam penteados de uma forma mais alinhada do que de costume, e a postura dele parecia ainda mais firme sob a luz suave da noite.

Stela prendeu a respiração. Philip estava deslumbrante.

Ele a olhou dos pés à cabeça, e por um momento o silêncio se prolongou.

— Você está… — ele começou, mas então Timont pigarreou alto, cruzando os braços.

— Eca.

Philip lançou um olhar divertido para o menino antes de se virar para Stela novamente.

— Você está magnífica.

Stela sentiu o rosto aquecer, mas apenas sorriu de leve.

Eles caminharam até a rua e Philip abriu a porta do carro para ela, ajudando-a a entrar como um verdadeiro cavalheiro. Então, acomodou Timont no banco de trás e tomou seu lugar ao volante.

Enquanto o carro deslizava pela estrada, Stela roubou um olhar para Philip, absorvendo cada detalhe da maneira como suas mãos firmes seguravam o volante, como o contorno da mandíbula estava suavizado sob a luz dos postes.

Ela nunca o tinha visto tão belo.

Mas, mais do que isso, nunca havia se sentido tão segura ao lado de alguém.

E, naquele momento, sentiu que algo em sua vida estava prestes a mudar para sempre.

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