Capítulo 3 - Entre a Guerra e a Promessa

O vento cortante trazia consigo o cheiro acre de pólvora e sangue. Philip estava de volta ao front, longe das ruas de Londres e da casa dos Whitmore. A guerra continuava a reclamar vidas, e ele, apesar das inúmeras batalhas vencidas, sentia que sua verdadeira luta era outra. Entre trincheiras e explosões, Philip se tornara uma lenda silenciosa, um soldado habilidoso e estrategista, mas reservado. Entre seus companheiros, era chamado de "o soldado misterioso", um homem de poucas palavras e muitos feitos.

Durante meses, ele enfrentou o horror das batalhas, viu amigos tombarem ao seu lado e teve de endurecer o coração para seguir em frente. Em meio ao caos, recebeu licenças periódicas, pequenas brechas entre a morte e a obrigação. E sempre que voltava a Londres, não buscava descanso em bares ou nos braços das mulheres que tentavam conquistá-lo. Em vez disso, ele seguia direto para a casa dos Whitmore, garantindo que Stela e Timont tivessem o suficiente para sobreviver.

Nos becos e mercados, cochichavam sobre ele. Um soldado honrado, que nunca se deixava levar pelos excessos da guerra, um homem que muitos olhavam com admiração, mas que permanecia distante, como se carregasse um fardo invisível.

Certa noite, ao retornar de licença, Philip pegou um saco de mantimentos e caminhou até a casa dos Whitmore, como sempre fazia. O céu estava escuro, salpicado de estrelas, e o silêncio reinava nas ruas desgastadas pelo tempo e pela guerra. Ao chegar à porta, deixou os suprimentos no lugar habitual e hesitou. Algo estava errado. A casa estava em completo silêncio, sem luz alguma acesa.

Franziu a testa e chamou baixinho:

— Stela? Timont?

Nenhuma resposta.

O coração de Philip acelerou. Ele olhou ao redor, procurando por qualquer sinal de movimento. O medo rastejou por sua espinha. Afastou-se da porta e contornou a casa, entrando pelo quintal. Foi então que os avistou.

Sob a luz pálida da lua, Stela girava Timont no ar, arrancando dele gargalhadas inocentes. Seus cabelos ruivos esvoaçavam ao vento, e sua pele clara parecia quase etérea sob o brilho prateado da noite. O riso da jovem misturava-se ao da criança, preenchendo o espaço com uma melodia esquecida pela guerra.

Philip ficou imóvel, observando a cena. Sentiu algo inesperado apertar seu peito. Durante anos, Stela fora apenas uma promessa, uma responsabilidade que carregava com honra. Mas agora, naquele instante, viu-a como nunca antes. Havia crescido. Não era mais apenas a menina franzina que encontrara tempos atrás. Ela era uma mulher, dona de uma beleza arrebatadora, que o fazia questionar tudo o que achava certo.

Inspirou fundo e deu um passo atrás, afastando-se antes que ela o notasse. Seu dever ainda estava acima de qualquer desejo. Mas, pela primeira vez, Philip se perguntou se conseguiria continuar enxergando Stela apenas como uma responsabilidade.

Philip caminhou lentamente pelas ruas escuras, deixando para trás a visão de Stela e Timont brincando no quintal. Seu peito ainda carregava o peso daquele momento inesperado, e ele não podia negar a estranha inquietação que se instalara dentro dele. O frio da noite não o incomodava; os anos na guerra o haviam endurecido para muito mais do que simples mudanças climáticas. Mas algo em seu interior parecia ter se remexido, como uma terra adormecida sendo revolvida depois de anos de seca.

Ele nunca fora um homem de muitos envolvimentos. A guerra o consumira de tal forma que, há muito tempo, deixara de pensar em sua própria vida como algo separado do campo de batalha. Antes de ser soldado, ele fora apenas Philip Lancaster, filho de um fazendeiro honrado, nascido e criado no interior da Inglaterra. Seu pai, Edward Lancaster, era um homem rígido, mas justo, que acreditava na dignidade do trabalho e no valor da palavra dada. Desde pequeno, Philip aprendera que a vida era feita de sacrifícios e que um homem deveria carregar suas responsabilidades sem queixas.

Sua infância fora marcada por madrugadas frias e mãos calejadas do trabalho na terra. Junto a seus irmãos mais novos, Thomas e Henry, ajudava o pai a cuidar da pequena fazenda, garantindo que tivessem o suficiente para passar os duros invernos. A mãe, Margaret, era a alma da casa, uma mulher doce, mas firme, que ensinara aos filhos o valor da honestidade e da compaixão. O instinto protetor de Philip vinha dela, do desejo de preservar aqueles que lhe eram confiados, mesmo que à custa do próprio bem-estar.

Quando completou dezoito anos, o chamado do exército veio como uma sentença inevitável. Assim como muitos jovens de sua geração, ele não teve escolha a não ser se alistar e servir à coroa. Deixou para trás a fazenda, os campos que conhecia tão bem e a família que aprendera a amar com silenciosa devoção. Partiu para um mundo onde a honra era medida pelo sangue derramado, e onde a morte espreitava a cada esquina.

No front, Philip se tornou mais do que um simples soldado. Era metódico, paciente e, acima de tudo, leal. Seus companheiros confiavam nele, viam-no como um líder, mesmo que ele próprio nunca reivindicasse esse papel. Mulheres lhe lançavam olhares quando retornava à cidade durante suas licenças, mas ele nunca se permitira distrações. O desejo era um luxo para aqueles que não carregavam fantasmas.

Naquela noite, porém, ao ver Stela dançando no quintal com Timont, sentiu que talvez estivesse diante de algo que não entendia completamente. A menina que ele havia jurado proteger não era mais apenas uma adolescente franzina. O tempo a moldara de forma delicada e sutil, e ele não pôde evitar notar a graça com que se movia, a forma como o riso dela ressoava no ar noturno.

Sacudiu a cabeça, afastando aqueles pensamentos. Não havia espaço para isso. Não podia permitir distrações. Ele era um homem de palavra, e sua promessa a James Whitmore era inquebrantável. O dever e a honra estavam acima de qualquer devaneio. O corpo, no entanto, há muito tempo não conhecia o calor de uma mulher, e a carne clamava por algo que sua mente se recusava a aceitar. Especialmente com a mulher errada.

Com passos firmes, continuou seu caminho, lembrando a si mesmo que sua missão era protegê-los, nada mais.

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