Capítulo 4 - Stela

O vento noturno soprava suave pelas ruas estreitas, balançando os galhos secos das árvores. Stela fechou os olhos por um instante, sentindo o frescor no rosto, como se o ar pudesse aliviar o peso invisível que carregava nos ombros. Ela estava acostumada a se sentir só, mas essa solidão tinha raízes antigas, muito antes da guerra, antes da morte de seu pai.

Olhando para trás, sua infância parecia ter sido roubada pela tragédia. Sua mãe, Eleanor Whitmore, fora uma mulher de alma gentil, mas o destino não lhe permitiu uma vida longa. A tuberculose a consumira lentamente, deixando Stela aos quatorze anos com um pai ausente devido ao serviço militar e um irmão de apenas um ano nos braços. Desde então, ela se tornara mãe e irmã ao mesmo tempo, ensinando-se sozinha a ser forte quando tudo o que queria era se permitir ser frágil.

A cidade conhecia sua história, mas poucos compreendiam verdadeiramente a dor que carregava. Ser órfã de mãe era apenas uma parte do que a definia. A guerra levou seu pai, e com isso, ela ficou sob a tutela de um homem que mal conhecia. Philip Lancaster.

Philip era um enigma. Um homem de honra inquestionável, sempre fechado em si mesmo, distante e reservado. Sua presença era sempre marcada pela obrigação, e não pelo afeto. Ele aparecia para garantir que ela e Timont tivessem o que precisavam para sobreviver, mas nunca ultrapassava esse limite. Ele era um guardião, e nada mais.

As pessoas na cidade falavam sobre ele, chamavam-no de o "soldado inabalável", um homem que nunca se deixava envolver por nada ou ninguém. As mulheres suspiravam por ele, admiravam sua postura rígida e o mistério que carregava consigo. Mas para Stela, Philip era como uma sombra, um fantasma que ia e vinha, sempre envolto no manto de sua obrigação.

E, no entanto, algo dentro dela se agitava quando ele aparecia. Não era gratidão, nem alívio, era algo mais profundo, mais inquietante. Philip nunca olhava para ela como os outros homens da cidade olhavam. Ele a via como alguém sob sua proteção, nada além disso. Stela sabia que, para ele, ela ainda era apenas uma menina, uma responsabilidade.

Mas ela não era mais uma menina.

Quatro anos haviam se passado, e agora, aos 21 anos, sentia-se diferente. Criara Timont com tudo o que tinha, sacrificando sua juventude, aprendendo a lidar com a fome, o frio e o medo. Virara noites acordada ao lado do irmão quando ele adoecia, aprendera a costurar, cozinhar, negociar no mercado e sobreviver sem ninguém para guiá-la. Ela não precisava de um guardião, precisava de um homem que a enxergasse.

Philip era um mistério difícil de decifrar.

Ela suspirou, passando as mãos pelos cabelos ruivos desalinhados pelo vento. Sua mente vagou por sua figura imponente, um homem moldado pela guerra e pelo trabalho árduo. Os cabelos pretos, sempre ligeiramente desalinhados, contrastavam com a barba curta e bem cuidada, que lhe dava um ar de severidade. Philip não era um homem qualquer. Seus ombros largos e a postura firme denunciavam a vida que levava no front, enquanto seus olhos, de um castanho âmbar, pareciam sempre analisá-la com uma neutralidade inabalável.

Ele sempre aparecia como uma tempestade contida, controlado e metódico, nunca deixando transparecer fraquezas. As mulheres da cidade sussurravam sobre ele, algumas ousavam tentar se aproximar, mas ele jamais cedia. Para Stela, Philip era um soldado, um guardião, alguém que nunca atravessaria a linha de sua obrigação. E talvez fosse melhor assim. Philip Lancaster era um homem de palavra, e ele jamais romperia uma promessa.

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