Capítulo 1 - O Chamado da Guerra


A fumaça das locomotivas misturava-se à neblina matinal quando Philip Lancaster, um jovem de 24 anos, desembarcou na estação. O frio cortante da manhã londrina não o incomodava tanto quanto o peso da obrigação que lhe fora imposta. Como tantos outros, ele fora convocado para o exército. A Segunda Guerra Mundial já consumia o mundo, e ele sabia, mais do que nunca, que a guerra não oferecia escapatória para ninguém.

O trem apitou ao entrar na estação, e Philip desceu com o coração pesado. A casa dos Whitmore aguardava por ele. E com ela, a promessa que fizera ao amigo caído.

No exato momento em que assinou os papéis do recrutamento, Philip foi designado como guardião de uma família, como era obrigatório para todos os soldados. O processo era simples: ou se escolhia uma família conhecida ou o destino decidia por meio de um sorteio. Philip, sem laços ou preferências, confiou sua sorte à burocracia militar e recebeu o nome da família Whitmore.

James Whitmore era um soldado veterano, recrutado de volta ao campo de batalha devido à emergência da guerra. Aos quarenta e poucos anos, já havia servido antes e conhecia o horror dos combates. Ele deixava para trás dois filhos: Stela, de dezessete anos, e Timont, de cinco. A mãe das crianças havia falecido vítima de uma doença, e naquela época James partira novamente sem ter a certeza de que voltaria.

Philip e James se conheceram no front, sem saberem da conexão que os unia. A amizade cresceu naturalmente entre trincheiras e noites de vigília, entre explosões e tiros que ecoavam na escuridão. Compartilhavam histórias de casa, falavam sobre a vida antes da guerra. Foi apenas após meses de convivência que Philip descobriu que James era o homem cuja família ele fora designado a proteger. A coincidência lhe pareceu um sinal do destino.

— Se algo acontecer comigo, pelo menos sei que eles estarão em boas mãos — disse James certa noite, enquanto o som distante de artilharia preenchia o silêncio entre eles.

Philip sorriu, com um misto de orgulho e responsabilidade.

— Eu cuidarei deles, James. Você tem minha palavra. Mas não fale assim, você vai sobreviver. Vamos sair dessa juntos.

Os dias seguintes foram brutais. O frio castigava os soldados, a fome corroía os ânimos e a morte rondava como um espectro invisível. Philip e James continuavam lado a lado, apoiando-se nas marchas exaustivas e se protegendo nas emboscadas inimigas. A poeira e a lama eram tão constantes quanto o medo. O cheiro da guerra — pólvora, sangue e suor — impregnava as roupas e os pulmões.

Então, veio o dia fatídico.

O regimento marchava por uma região tomada por destroços, o cheiro de metal queimado e pólvora impregnado no ar. O som ensurdecedor de uma explosão ecoou pelo campo, e em meio à poeira e ao caos, Philip viu James cair. O homem havia pisado em uma mina terrestre.

O tempo pareceu desacelerar. Philip correu para ele, mas nada podia ser feito. James o olhou nos olhos, tentando falar, mas o sangue já lhe escapava dos lábios.

— Cuide deles... — foi tudo o que conseguiu sussurrar antes de seu corpo perder a vida.

Philip sentiu um aperto sufocante no peito. A

guerra roubava vidas impiedosamente, e mais uma vez, havia roubado um homem bom. Mas não havia tempo para lamentar. O ataque se intensificou. Granadas explodiam ao redor, disparos zumbiam pelo ar. Philip teve que recuar com os sobreviventes, cada passo dificultado pelo peso do luto.

O que se seguiu foi um borrão de explosões, tiros e dor. Mas Philip sobreviveu. Depois de meses no front, finalmente recebeu a ordem de retorno temporário para casa. Havia momentos na guerra em que os soldados eram autorizados a voltar por um breve período antes de serem enviados novamente ao combate. Esse era o seu momento. E ele sabia exatamente para onde deveria ir.

A viagem de volta foi silenciosa. O balanço do trem não conseguia acalmar sua mente atormentada pelos horrores que presenciara. O grito de James ainda ecoava em sua memória, misturado ao estrondo da explosão. Ele fechava os olhos e revivia a cena, a poeira vermelha, o cheiro de carne queimada. Sua promessa pesava sobre ele como uma armadura.

A fumaça das locomotivas misturava-se à neblina matinal quando Philip Lancaster, um jovem de 24 anos, desembarcou na estação. O frío cortante da manhã londrina não o incomodava tanto quanto o peso da responsabilidade que agora carregava. Ele desceu do trem com a consciência de que não era mais apenas um soldado retornando, mas sim o guardião da família Whitmore, aquele que deveria garantir a segurança e o bem-estar dos filhos de James, honrando a promessa feita ao amigo caído.

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