Capítulo 2 - O Retorno à Realidade

O cheiro de terra molhada misturava-se à poeira que se erguia a cada passo pesado de Philip. Seus pés tocavam o chão firme de Londres, mas sua mente ainda vagava pelas trincheiras, pelos gritos sufocados e pelas promessas feitas entre disparos. O trem já partira, levando consigo outros soldados, deixando apenas os ecos de lembranças que se recusavam a silenciar.

Philip ergueu os olhos para o horizonte acinzentado da cidade. Nada parecia diferente e, ao mesmo tempo, tudo estava mudado. Havia um vácuo entre ele e o mundo que um dia conhecera. As pessoas caminhavam pelas ruas com uma pressa rotineira, enquanto ele se sentia um intruso em sua própria terra. Inspirou fundo e fechou os olhos por um instante. Ele tinha um dever.

A casa dos Whitmore ficava em uma rua simples, onde as paredes das casas exibiam marcas do tempo e da guerra. Ao se aproximar, hesitou. O que diria a Stela e ao pequeno Timont? Como encontraria palavras para amenizar o peso da ausência de James? Inspirou fundo mais uma vez e bateu à porta.

O silêncio que se seguiu foi breve, mas carregado de expectativa. A porta rangeu ao ser aberta, revelando Stela. Seus cabelos ruivos caíam em ondas suaves sobre os ombros, e sua pele clara, levemente ruborizada pelo frio, realçava ainda mais o brilho intenso de seus olhos verdes. Contudo, ela era franzina, mais nova do que Philip imaginava, com ombros estreitos e um corpo esguio que denunciava os anos difíceis que enfrentara. Philip não pôde evitar um breve momento de surpresa. A jovem diante dele não era alguém que conhecia. Até então, Stela era apenas um nome, um compromisso imposto pelo exército. Mas agora, ao vê-la, compreendeu a extensão de sua responsabilidade. O olhar da jovem carregava tanto a doçura da juventude quanto a sombra da perda.

Ela não precisou perguntar. Apenas olhou para Philip e soube. Ele baixou a cabeça por um instante, como se pedisse desculpas pelo destino implacável que não conseguira evitar.

— Ele... — começou Stela, mas sua voz falhou.

Philip assentiu lentamente.

— Sinto muito, Stela. Ele foi um homem corajoso. Um amigo leal.

Ela respirou fundo, apertando os lábios para conter as lágrimas. Timont surgiu atrás da irmã, segurando o tecido de seu vestido. Os olhos grandes e inocentes buscaram em Philip uma resposta que ele não poderia dar. O pequeno não entendia completamente a situação, mas sentia a ausência. Sentia o vazio.

Philip inspirou fundo, sentindo o peso do momento se assentar sobre seus ombros. Não havia palavras suficientes para aliviar aquela dor. Mas havia promessas. E ele as cumpriria.

— A partir de agora, eu cuidarei de vocês — disse ele, sua voz firme, mas baixa.

Stela assentiu, ainda sem palavras. Ela não o convidou para entrar. Philip compreendia. Ele não era um conhecido, não era um amigo. Era um estranho trazendo más notícias. Ele olhou uma última vez para os dois antes de se virar e partir.

Nos meses que se seguiram, Philip cumpriu sua promessa de longe. Deixava mantimentos na porta, observava de longe se Stela e Timont estavam bem. A guerra ainda não havia terminado, e seu posto o chamava de volta. Mas sempre que podia, voltava. Apenas para garantir que eles continuassem a sobreviver.

Ele ainda não sabia que, anos depois, sua responsabilidade com eles tomaria um novo rumo. Mas, por ora, sua guerra era apenas essa: manter a promessa e protegê-los da forma que podia.

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