Capítulo 13 - A Vida na Fazenda
O cheiro da terra úmida misturava-se ao ar fresco da manhã enquanto Philip trabalhava nos estábulos. A fazenda Lancaster era um refúgio de tranquilidade, cercada por campos verdejantes e pelo som constante dos animais. Era como se a guerra nunca tivesse chegado ali. Mas dentro de Philip, a guerra ainda não havia terminado.
— Você parece perdido, irmão — Henry comentou, encostado na cerca de madeira enquanto observava Philip escovar um dos cavalos. — Está de volta para casa, são e salvo, mas age como se ainda estivesse no front.
Philip suspirou, sem interromper o que fazia.
— Estou apenas tentando me reajustar.
William, sentado no tronco de uma árvore próxima, virou uma página do livro que lia e sorriu de canto.
— Ou talvez esteja tentando esquecer algo — murmurou.
Philip lançou um olhar rápido para os irmãos, mas não respondeu. Ele não queria falar sobre Stela. Se falasse, tudo viria à tona.
Henry, sempre mais direto, inclinou a cabeça.
— É sobre a garota, não é? A que ficou na sua casa em Londres?
Philip travou a mandíbula.
— Não há nada para falar sobre isso.
Henry riu baixo.
— Então por que está colocando um anúncio de casamento para ela no jornal? — Seu tom era provocativo, mas carregava curiosidade genuína.
Philip soltou um suspiro longo e se afastou do cavalo, limpando as mãos na calça.
— Porque é o certo a fazer. Ela precisa de um marido. Alguém que cuide dela e de Timont. Alguém que não seja eu.
William fechou o livro, observando-o atentamente.
— Tem certeza de que isso é para o bem dela... e não para o seu?
Philip não respondeu. Pegou o chapéu e caminhou para a casa principal. Ele já tinha marcado um encontro com o editor do jornal local para providenciar o anúncio. Quanto mais rápido garantisse um futuro para Stela, mais rápido conseguiria enterrá-la no passado.
Naquela noite, deitado em sua antiga cama, Philip encarava o teto, sem conseguir dormir. Stela não saía de sua mente.
Ele tentou se convencer de que aquilo era apenas preocupação. Mas não era.
Ele sentia falta dela. Dos pequenos detalhes. Das manhãs silenciosas em que a via organizar a casa com movimentos ágeis e graciosos. De como sua presença tornara o lar um lugar confortável, algo que ele não percebera até perdê-lo.
Ela era virtuosa. Organizada. Não desperdiçava nada do que ele enviava, administrava tudo com sabedoria, garantindo que Timont nunca passasse necessidade. E ainda assim, sempre que podia, ajudava aqueles que tinham ainda menos. Ela era generosa.
Philip se virou na cama, passando a mão pelo rosto. Por que estava torturando a si mesmo?
Ele se lembrou do som suave da voz dela quando lia para Timont à noite. Do jeito que franzia a testa enquanto escrevia as cartas, como se quisesse escolher as palavras certas. Do brilho em seus olhos quando falava sobre seu irmão, sobre seus sonhos.
Stela não era apenas uma mulher sob sua tutela.
Ela era a única pessoa que trouxera luz para sua vida após anos de guerra.
Philip fechou os olhos e soltou um suspiro pesado. Mas agora já era tarde. Amanhã, o anúncio estaria no jornal. E logo, um homem adequado tomaria o lugar que ele, por honra, nunca poderia ocupar.
O dia amanheceu e, logo nas primeiras horas da manhã, os primeiros interessados no anúncio de casamento começaram a chegar à fazenda Lancaster. Philip, de braços cruzados, observava os homens se aproximarem com uma expressão neutra.
Ele não deixaria qualquer um casar-se com Stela. Se havia decidido afastá-la de sua vida, ao menos garantiria que ela ficasse com um homem digno.
Cada pretendente foi recebido por Philip, que os avaliava com um olhar afiado. Conversava, fazia perguntas, analisava suas respostas com atenção. Um bom pretendente deveria ser mais do que um simples marido. Ele deveria ser um líder de sua família, alguém que enxergasse o casamento como uma parceria baseada no respeito e no amor. O homem que tomaria Stela como esposa deveria ter o trabalho como razão de vida, não um preguiçoso ou alguém que dependesse dos outros para sobreviver.
Philip também queria alguém amoroso e compreensivo, que soubesse cuidar da esposa e da casa com responsabilidade. Acima de tudo, o homem deveria ser fiel e protetor, garantindo a segurança de sua família, um educador para os filhos e um exemplo de humildade e fé.
Os primeiros pretendentes não impressionaram. Alguns pareciam mais interessados na beleza de Stela do que em formar uma família. Outros falavam sobre suas posses, tentando demonstrar estabilidade, mas Philip não buscava apenas um homem com dinheiro. Queria alguém que, se ele próprio não pudesse cuidar dela, ao menos o fizesse da forma que ele faria.
Conforme a tarde avançava e mais homens eram entrevistados, Philip começava a sentir um incômodo crescer dentro de si. Ele estava mesmo fazendo isso?
A cada resposta insatisfatória, a cada expressão vazia, ele sentia um aperto no peito. Nenhum deles parecia realmente à altura dela. Nenhum deles parecia digno o bastante.
E então, pela primeira vez, Philip se perguntou se existia, de fato, alguém que ele julgaria bom o suficiente para tomar o lugar que ele, por princípios e promessas, se recusava a ocupar.